quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

ESPERANÇA...REALIDADE

Sentada num cadeirão, estrategicamente, colocado junto à janela, Maria segurava entre os dedos um longo e fino cigarro que ardia, lentamente, enquanto no seu colo repousava semiaberto um livro; o seu olhar, vazio, perdia-se através da vidraça, no turbilhão de movimentos da sua cidade ao romper de um novo dia.
Seu corpo, gelado, enroscava-se na procura de algum aconchego.
Aquele quadro anunciava que, mais uma noite, tinha sido passada em claro.
A sua ansiedade era cada vez maior.
Tinham passado três noites; três noites de solidão, desencanto e sofrimento.
Pela porta tinha saído, sem deixar rasto, a única pessoa em quem confiara. O único homem que amara até à exaustão.
Seus olhos, rasos de água, perdiam-se, agora, naquela imensidão, procurando que, do meio do nada, surgisse uma figura alta e esguia, de onde sobressaiam os seus cabelos alvos e um rosto enternecedor.
No silêncio do quarto, irrompe uma música saída dos TOP's de vendas.
Maria estremece e, seu corpo fica hirto, enquanto o seu olhar se prende ao telemóvel que saltita em cima da cómoda. Era o dele; tinha ficado esquecido, aquando da sua partida.
Deu um salto do cadeirão. Seu semblante irradiava a esperança de o ouvir dizer que não demorava.
Com um sorriso aberto e a mão trémula, segurou o telemóvel; e, com a mesma voz apaixonada de há três dias atrás, atendeu :
-Olá, amor!
Do outro lado,
por segundos, imperou um terrível silêncio.
Embaraçada, faz-se ouvir uma voz jovem e doce:
-Peço desculpa. Devo-me ter enganado no número.
A chamada foi abaixo.
Maria sentou-se na beira da cama; enquanto pela sua face, pálida, rolavam duas grossas lágrimas que se juntaram por baixo do queixo.
Na sua cabeça, por segundos, passaram os momentos maravilhosos de amor que tinham vivido, misturados com um misto de ódio e de raiva.
Deixou-se cair para trás, fixando o azul claro do tecto; as lágrimas deram origem a um choro convulsivo. Foi, então, vencida pelo cansaço que a assolou, ao longo de três noites, sentada à beira daquela janela de esperança.
Adormeceu...
isabel