quinta-feira, 25 de outubro de 2007

DESÂNIMO ...

Subject: Exma. Senhora Ministra da Educação


Um dia destes colocaram, no placar da Sala dos Professores, uma lista dos
nossos nomes com a nova posição na Carreira Docente.

Fiquei a saber, Sr.ª Ministra, que para além de um novo escalão que
inventou, sou, ao final de quinze anos de serviço, PROFESSORA.

Sim, a minha nova categoria, professora!

Que Querida! Obrigada!

E o que é que fui até agora?

Quando, no meu quinto ano de escolaridade, comecei a ter Educação Física,
escolhi o meu futuro. Queria ser aquela professora, era aquilo que eu queria
fazer o resto da minha vida. Ensinar a brincar, impor regras com jogos,
fazer entender que quando vestimos o colete da mesma cor lutamos pelos
mesmos objectivos, independentemente de sermos ou não amigos, ciganos,
pretos, más companhias, bons ou maus alunos. Compreender que ganhar ou
perder é secundário desde que nos tenhamos esforçado por dar o nosso melhor.
Aplicar tudo isto na vida quotidiana.

Foi a suar que eu aprendi, tinha a certeza de que era assim que eu queria
ensinar! Era nova, tinha sonhos...

O meu irmão, seis anos mais novo, fez o Mestrado e na folha de
Agradecimentos da sua Tese escreve o facto de ter sido eu a encaminhá-lo
para o ensino da Educação Física. Na altura fiquei orgulhosa! Agora, peço-te
desculpa Mano, como me arrependo de te ter metido nisto, estou envergonhada!

Há catorze anos, enquanto, segundo a Senhora D. Lurdes Rodrigues, ainda não
era professora, participava em visitas de estudo, promovia acampamentos,
fazia questão de ter equipas a treinar aos fins-de-semana, entre muitas
outras coisas. Os alunos respeitavam-me, os meus colegas admiravam-me, os
pais consultavam-me. E eu era feliz. Saia de casa para trabalhar onde
gostava, para fazer o que sempre sonhará, para ensinar como tinha aprendido!

Agora, Sr.ª Ministra, agora que sou PROFESSORA, que sou obrigada a cumprir
35 horas de trabalho, agora que não tenho tempo nem dinheiro para educar os
meus filhos. Agora, porque a Senhora resolveu mudar as regras a meio (Coisa
que não se faz, nem aos alunos crianças!), estou a adaptar-me, não tenho
outro remédio: Entrego os meus filhos a trabalhadores revoltados na
esperança que façam com eles o que eu tento fazer com os deles. Agora que me
intitula professora eu não ensino a lançar ao cesto ou a rematar com
precisão à baliza, não chego, sequer a vestir-lhes os coletes.

Passo aulas inteiras a tentar que formem fila ou uma roda, a ensinar que
enquanto um "burro" mais velho fala os outros devem, pelo menos, nessa
altura, estar calados. Passo o tempo útil de uma aula prática a mandar
deitar as pastilhas elásticas fora (o que não deixa de ser prática) e a
explicar-lhes que quando eu queria dizer deitar fora a pastilha não era para
a cuspirem no chão do Pavilhão. E aqueles que se recusam a deita-la fora
porque ainda não perdeu o sabor? (Coitados, afinal acabaram de gastar o
dinheiro no bar que fica em frente à Escola para tirarem o cheiro do cigarro
que o mesmo bar lhes vendeu e nunca ninguém lhes explicou o perigo que há ao
mascar uma pastilha enquanto praticam exercício físico). E os que não tomam
banho? E os que roubam ou agridem os colegas no balneário?

Falta disciplinar?

Desculpe, não marco !

O aluno faz a asneira, e eu é que sou castigada? Tenho que escrever a
participação ao Director de Turma, tenho que reunir depois das aulas (E quem
fica com os meus filhos?). Já percebeu a burocracia a que nos obriga? Já viu
o tempo que demora a dar o castigo ao aluno? No seu tempo não lhe fez bem o
estalo na hora certa?

Desculpe mas não me parece!

Pois eu agradeço todos os que levei!

Mas isto é apenas um desabafo, gosto de falar, discutir, argumentar com quem
está no terreno e percebe, minimamente do que se fala, o que não é, com toda
a certeza, o seu caso.

Bastava-lhe uma hora com o meu 5ºC. Uma hora! E eu não precisava de ter
escrito tanto! E a minha Ministra (Não votei mas deram-ma. Como a médica de
família ,que detesto, mas que, também, me saiu na rifa e à qual devo estar
agradecida porque há quem nem médico de família tenha - outro assunto)
entendia porque não conseguirei trabalhar até aos 65 anos, porque é injusto
o que ganho e o que congelou, porque pode sair a sexta e até a sétima versão
do ECD que eu nunca fui nem serei tão boa professora como era antes de mo
chamar!

Lamento profundamente a verdade!

Viana do Castelo


Ao ler este email que recebi hoje, não consegui conter-me e, senti a necessidade de o partilhar convosco. Não identifico a autoria da carta porque disso não vejo necessidade; porém, foi-me enviada.

O único comentário que faço é o seguinte:
-A quantos de nós não apeteceu já escrever algo idêntico?!

Fiquem bem...

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

FAZ-ME FALTA O STRESS...

O sol esgueira-se, sorrateiramente, pelas frestas da persiana.
Lá fora, chilreiam alguns passaritos que, talvez, ainda não tenham dado conta que o Verão terminou.
Porém, sobressaem os ruídos próprios da vida agitada de uma cidade em pleno stress.
Subo a persiana e, melancolicamente, encosto o nariz na vidraça. São, já, muitos os dias em que a cena se repete.

Vou olhando as passadas apressadas de quem não pode parar. Será que não?

Há, mais ou menos, um mês atrás eu pensava o mesmo.
Preparava o ano escolar que ia começar; escolhia materiais, idealizava projectos, seleccionava livros... enfim, toda a parafenália inerente a quem vai resistindo e lutando por ser professora neste País.
Todo o trabalho encaminhado e, eis que surge um simples sobrescrito que, por algum tempo, vem pôr fim ao desejo de regressar ao stress.
Aqui estou, sem poder dar grande azo à minha vontade de ir à luta; sou logo "avisada" que estou a pisar o risco.

Serão, apenas, julgo eu, mais uns dias. Tudo por causa dos 80 km que tenho de fazer diariamente!!! Vou colmatando esta falta, lendo.

Nesta paragem na rotina, encontrei algo de positivo para mim; julgo, não voltar a dizer, sem que pense duas vezes:
"Desculpa, mas não posso; não consigo arranjar tempo para nada!".


Aproveitem bem...

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

ANSIEDADES ...

Quero-Vos agradecer, meus queridos Amigos, pelas palavras afáveis que aqui me têm deixado. Vou passando para as ler mas, ainda, não senti grande coragem para me sentar frente ao PC e "falar" convosco.

Hoje, talvez por ter sido, a primeira vez que saí à rua, para tomar um tão desejado café, achei que deveria tentar dar-Vos uma palavrinha de apreço pelos vossos miminhos. Mais uma vez, obrigado a todos que ajudam na minha recuperação.

Já é tarde. O silêncio impera por toda a casa. Mas, é nesta serenidade, que eu sinto o apelo, do meu Eu, para soltar as minhas alegrias, tristezas, ansiedades, revoltas, medos... enfim, as minhas emoções.
Neste momento, sinto um pouco de todas estas emoções. A imensidão dos meus dias, tem deixado que os meus pensamentos deambulem, livremente, indo até aos mais recônditos lugares do meu ser.
Dou por mim, a fazer um filme da minha vida; apesar de, neste momento, me concentrar mais no que marcou definitivamente a minha vida: ser Mãe.
Comecei com a preocupação de proteger o meu filho para que não se magoasse, não sofresse, que interiorizasse todos os valores que, com toda a cautela, lhes íamos passando.
Dezassete anos volvidos, constato que nunca me afastei desta labuta: converso com ele com o intuito que não se magoe, que não sofra e, agora mais ainda, que não faça sofrer quem, com ele partilha os seus 17 anos; esperando, porém, que todos os valores que demonstra ter bem adquiridos os possa utilizar.

Tudo isto, só porque a minha alegria de vida passa, primeiro de tudo, pela alegria e bem estar dele.



Um grande beijo em cada um de Vocês...