sábado, 17 de maio de 2008

SERÁ QUE VALE A PENA?...


Sábado à tarde.
Lá fora os carros cruzam-se. São famílias que, aproveitam para dar um passeio, sob uma tímida réstia de Sol que, emana,de uma Primavera zangada; são pessoas que fazem as compras que a semana de trabalho priva; são namorados que aproveitam a pausa de um sábado para colorir uma relação que vivem intensamente,..., enfim, é um movimento que me desperta a atenção através da vidraça da porta da minha varanda.
E eu aqui!
Sentada em frente ao computador, preparo mais uma semana de aulas. Pesquiso recursos que possam enriquecer o meu trabalho na ânsia de cativar crianças que tão difíceis são de agradar.
São textos e textos para fazer montagens, é a procura da imagem que melhor se enquadra, é a dúvida se vai agradar e, principalmente, motivar para o assunto que queremos transmitir.
É assim que, ultimamente, tenho passado os meus fins de semana. Porque para além de tudo, ainda, tenho os meus trabalhos de casa: relatórios, actas, papéis para preencher...

Família?!É claro que tenho família... mas vão-se entretendo a ver televisão entre um café e outro...
Por impossível que pareça, isto não é uma queixa!
É um lamento...

Iniciaram-se, ontem, as Provas de Aferição; este ano coube-me a tarefa de Aplicadora. Penso que não me vou sentir tão frustrada como o ano passado ao ser incumbida da correcção das provas de Língua Portuguesa.

Passada a fase de dramatização, em que centenas de professores espalhados por todo o país fazem, rigorosamente, as mesmas recomendações, com um texto pré-fornecido para que, assim, não haja qualquer tipo de diferença na linguagem, sentei-me.
Peguei numa Prova e passei os olhos pelo texto que, até, me agradou e comecei a ler o restante.
Quando cheguei ao fim soltei, sussurradamente, um desabafo com a colega que me acompanhava nesta tarefa:
-Assim, não vale a pena ser professora...

Passamos anos a tentar que os nossos alunos aprendam a construir correctamente frases; que se orgulhem da língua que falam, para no fim, ao serem avaliados (isto é, ao avaliarem-nos) não haver a preocupação de ver se foram transmitidas as regras básicas da nossa Língua.

No final, as crianças vêm felizes.
-Foi facílimo!!!!

Pois foi. Mas, muitas delas, vão esbarrar; pois, não é aquilo que costumam fazer nas aulas e, por isso, tropeçam nas facilidades.

Por favor, deixem as nossas crianças demonstrar que os professores lhe ensinaram algo mais do que pôr cruzinhas em tabelas demasiadamente óbvias.

Estou triste...