segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

ESTÁS COMIGO ...

Olhei em volta
não te vi.
Fechei os olhos;

e, na face,
senti
o calor
de um afago.


Abri,lentamente,
as pálpebras.

Fixei o horizonte.
Aí, vi,
que lá ao longe;
TU sorrias para mim.


...até sempre...

sábado, 22 de dezembro de 2007

UM CAFÉ À TARDE ...

O vento assobiava por entre os ramos nus das árvores; enquanto o sol espreitava, aquecendo todos os que, embrulhados em quentes agasalhos, o procuravam
Na sua passada apressada, Maria, atravessava a Praceta . Ao fundo, vislumbrava já, as cadeiras vermelhas da antiga esplanada por si frequentada durante longos anos.
Suas pernas hesitavam no andamento.
Seria boa ideia regressar a um lugar de onde guardava as melhores recordações das suas vivências de estudante?
Cada vez mais perto, seu coração batia descompassadamente.
Seus olhos marejados de água, pelas recordações que , como num filme, lhe trespassavam o pensamento, procuravam um vulto conhecido.
A proximidade era cada vez maior. O coração pulsava com grande vigor. As pernas pesavam.
Ei-la chegada.
Olhou em volta, enrolando mais a gola de pêlo que lhe envolvia o pescoço, procurando um lugar para se sentar.
No cantinho, estava uma mesa livre. Caminhou para ela, olhando de soslaio todos os que por ali permaneciam.
Sentou-se virada para o rio que espelhava os reflexos dourados de um sol envergonhado mas apetecido.
Permaneceu, assim, por largos minutos.
Pediu um café. Degustou-o, lentamente, olhando o ondear das águas platinadas.
O silêncio do seu pensamento foi quebrado pelas gargalhadas, estridentes e sinceras, de um grupo de jovens que entretanto se sentara, sem que disso desse conta.
Olhou. Sorriu.
Afinal, a vida continuava e as recordações ficavam. Valiam o que valiam.
Pegou no seu livro que abriu onde estava o marcador.
Começou a ler saboreando, com ternura, aquele fim de tarde.
Afinal, a vida decorre deixando marcas, boas e más, para que sintamos que estamos vivos.

por, isabel

Festas felizes

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

ESPERANÇA...REALIDADE

Sentada num cadeirão, estrategicamente, colocado junto à janela, Maria segurava entre os dedos um longo e fino cigarro que ardia, lentamente, enquanto no seu colo repousava semiaberto um livro; o seu olhar, vazio, perdia-se através da vidraça, no turbilhão de movimentos da sua cidade ao romper de um novo dia.
Seu corpo, gelado, enroscava-se na procura de algum aconchego.
Aquele quadro anunciava que, mais uma noite, tinha sido passada em claro.
A sua ansiedade era cada vez maior.
Tinham passado três noites; três noites de solidão, desencanto e sofrimento.
Pela porta tinha saído, sem deixar rasto, a única pessoa em quem confiara. O único homem que amara até à exaustão.
Seus olhos, rasos de água, perdiam-se, agora, naquela imensidão, procurando que, do meio do nada, surgisse uma figura alta e esguia, de onde sobressaiam os seus cabelos alvos e um rosto enternecedor.
No silêncio do quarto, irrompe uma música saída dos TOP's de vendas.
Maria estremece e, seu corpo fica hirto, enquanto o seu olhar se prende ao telemóvel que saltita em cima da cómoda. Era o dele; tinha ficado esquecido, aquando da sua partida.
Deu um salto do cadeirão. Seu semblante irradiava a esperança de o ouvir dizer que não demorava.
Com um sorriso aberto e a mão trémula, segurou o telemóvel; e, com a mesma voz apaixonada de há três dias atrás, atendeu :
-Olá, amor!
Do outro lado,
por segundos, imperou um terrível silêncio.
Embaraçada, faz-se ouvir uma voz jovem e doce:
-Peço desculpa. Devo-me ter enganado no número.
A chamada foi abaixo.
Maria sentou-se na beira da cama; enquanto pela sua face, pálida, rolavam duas grossas lágrimas que se juntaram por baixo do queixo.
Na sua cabeça, por segundos, passaram os momentos maravilhosos de amor que tinham vivido, misturados com um misto de ódio e de raiva.
Deixou-se cair para trás, fixando o azul claro do tecto; as lágrimas deram origem a um choro convulsivo. Foi, então, vencida pelo cansaço que a assolou, ao longo de três noites, sentada à beira daquela janela de esperança.
Adormeceu...
isabel